terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Música Erudita. Olhe de novo

Erudição é da ordem das origens, de um tempo que ousou contrariar a linha sucessória dos amanheceres, que terminam consumidos pela escuridão, e que o frio mais acentuado da noite prenuncia o fulgor, devolvendo à terra horizontes e suas linhas. Certamente existe um preço a ser pago, quando se retira a principal substância de uma das dimensões. O tempo corrompido sangra gotas de imobilidade. Entretanto, antes de ser erudita é música.

É verdade que os momentos que precedem uma apresentação de música erudita tem uma certa aparência de ordem, disciplina.

 

Cellos repousam deitados, após diligentemente afinados, equilibrando arcos retesados e perfumadas crinas impregnadas de breu.

  

Braços alongados, perfilados, como um exército inspecionado por seus comandantes...

 

... e arsenal municiado. Mas são ilusões, não há armas nem exércitos, sequer fronteiras a serem defendidas. A música erudita é permeada pelo que envolve todas as expressões musicais: a magia. Escondida sob a superfície dos instrumentos, a realidade tentará captá-las, mas ela não se deixa ser descoberta facilmente. É preciso olhar de novo.

Sua materialidade se baseia, em parte, na percepção da dinâmica do impossível, inundando a realidade com substâncias, sons e movimentos que não deveriam existir, porém aí estão. 

 

 
 
 

 Os músicos também são embebidos pela magia, experimentando momentaneamente uma realidade dual, existindo no aqui-agora público e outra realidade, deslocada, compartilhada por quem toca.
 
Habitando e interagindo plenamente nessas duas realidades, enquanto se mantém o mágico vínculo, posto em movimento ao soar da primeira nota da peça musical.

Essa superposição de existências pode, frequentemente, ser dominada pela expressão da magia. Mas não importa; a realização pessoal e a felicidade sempre serão vivenciadas em sua plenitude.




Imaggens captadas durante apresentação da Escola de Música, da Orquestra Sinfonica de Rio Claro, em 29/11/2023